terça-feira, 26 de junho de 2012

Ética republicana

Ricardo Rodrigues, o "mãozinha leve", deputado ilustre e destacado do PS, meu patrício ilhéu para minha vergonha de açoriano, foi condenado em tribunal em pesada pena de multa pelo célebre surripianço de gravadores a dois jornalistas.

Pronto, acabou-se a história. Como, apesar de tudo, RR é homem sério, ilibado de acusações torpes de pedofilia e de burla de cliente seu como advogado, estou convencido de que ele (ou até o seu partido por ele) vai extrair conclusões desta condenação inequívoca e o inefável meu patrício vai resignar do seu mandato de deputado e regressar à sua medíocre prática causídica lá na ilha.

Ou estou a ser parvo?

P. S. (27.6.2012) - Suspendeu hoje as suas funções, leio agora a notícia. Procedeu bem.

Fisionomias

Tenho um truque de cuja eficiência prática sempre me gabei (principalmente em situações de tensão de debate, discussão ou negociação). Duvido de que tenha alguma base científica, mas serve-me, na prática. Também não sei se tem alguma coisa a ver com Stanislavsky ou com o Actor’s Studio - até acho que tem.
Trata-se, pura e simplesmente, de me meter na pele de outro, sentir a sua mentalidade, feitio, forças e fraquezas, só por analisar bem a sua fisionomia e tentar imitá-las, em exercício de mimetismo. Se imito fisionomicamente outra pessoa, passo a ser muito ela. Até penso com a voz dele. A mente é muito o reflexo do corpo, da emoção (e expressão é emoção), coisa que tornou tão popular o nosso compatriota Damásio. Modificarmos o nosso corpo faz-nos modificar a mente.
Garanto que já tenho ganho muito na vida com esta minha habilidade, construo nos segundos prévios decisivos a minha resposta a argumentos ou atitudes. Se calhar, também para efeitos casanovianos… lembram-se do “Adam’s rib”? Que jeito dá conseguir chorar na hora certa! O mal é a morena ter a mesma habilidade de camaleão carinhoso. Almas gémeas é muito bonito mas também pode ser um problema.
Não é preciso ir tão longe nessa "impersonação", muitas vezes basta a análise da expressão facial, do olhar, do sorriso, dos rictos. Vejam este, Carlos Moedas, eminência parda de Passos Coelho. A cabeça e a face estão posicionadas com rigidez artificial. Este homem começa por não ser certamente assim quando acorda e boceja, o momento mais verdadeiro da nossa vida (ou, à velho gentleman, quando veste as cuecas diante do “valet” que as escolheu). A cara é uma máscara. O olhar é distante e frio. Vemos na televisão que também é rígido, fixo, controlado, inexpressivo. A boca não mostra sorriso nem desagrado, antes alguma coisa artificialmente indefinível, uma lâmina, fechada, controladamente, sem sinal de sensibilidade. Manter aquela linha de lábios e ao mesmo tempo o ligeiríssimo sorriso nas comissuras, é coisa totalmente artificial. Experimentem, defronte do espelho, sentindo como se sentem. Ainda por cima, a voz parece de gramofone, de disco riscado. 


Perante o mundo, este produto exemplar da sociedade de hoje adota uma imagem construída. Não consigo, no meu truque, “entrar nele”, porque é entrar numa máquina. Este homem não é um homem, é um robô. Como ele, só conheço Jens Weidmann, o jovem presidente do Bundesbank (aliás, são fisionomicamente parecidos; e até escolheram os mesmos óculos). Ou, em versão caricata, o inefável comissário europeu Olli Rehn, com o seu típico falar inglês de sintetizador acústico digital. São todos uma espécie de “invaders” que nos permitiriam ficcionar sobre o que se está a passar com estes filhos da banca. Acudam, vêm aí os marcianos!!!
Diferente, goste-se ou não - e eu abomino o homem, com tendência familiar para Savonarola - é Vítor Gaspar. A expressão é espontânea e sincera. O facies - coisa tão importante na cultura médica - é natural, mostra muitas rugas e papos, barba mal feita, ao contrário da pele lisinha e assética do anterior, gravata de mau gosto, sinais - para nossa infelicidade - de quem preza mais o seu fundo de alma do que a sua imagem. O olhar iluminado, o mais significativo nele a par da forma, tom e ritmo de falar, é o mais característico e permite-me facilmente, neste caso sim, “meter-me nele”. Ao fim de um minuto, principalmente se ensaiando também um dos seus discursos com a sua gestualidade manual muito característica (de púlpito de igreja, com nova técnica de abanar teatralmente a largueza de mangas dos paramentos), julgo senti-lo. 

Um fanático, um missionário, alguém sinceramente honesto mas que não questiona intelectualmente essa honestidade e a sua fé, apesar dos instrumentos académicos que obteve, de quem os seus alunos ouviram sermões quando julgavam ouvir aulas de natureza científica. Um tridentino, um homem da igreja, um meu avô ultramontano. Porque honestamente convicto e apóstolo, muito mais perigoso, muito mais difícil de desconstruir

Falta falar de Passos Coelho, mas não apetece, porque a ideia de o "impersonar" é desgostante. Diferente é Seguro, mais desafiador como exercício, mas o resultado seria igualmente desgostante, até talvez por piores razões. Já tentaram pensar no que seriam com aquela carinha? E se não estariam, quase que por natureza, num seminário? O outro caso manjifesto em que, à Zelig, visto facilmente a personagem é o do ministro Relvas. Mas este é caso tão óbvio, com aquela cara de aldrabão, que não merece nota.

Finalmente, proíbo os leitores de dizerem que este é um "post" à Zandinga!

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Alemanha x Grécia (II)


A morena sofreu a ver o jogo, hoje ela era mesma grega. Mas teve uma provavelmente inédita em termos futebolísticos.
“O teu golfe é muito mais desportivo do que o futebol, porque há o handicap. Neste jogo, os gregos deviam entrar já a ganhar por 2-0, porque estão fisicamente diminuídos, subnutridos graças à austeridade imposta pelos alemães”.
Segunda observação, mesmo de mulher maldosa. “Aquela fulana [percebe-se logo quem é] nem sabe bater palmas com elegância feminina, parece uma camponesa saloia”.

Alemanha x Grécia (Germany x Greece)



Amanhã sou grego e espero que o resultado, pelo menos, seja este do vídeo (LOL!). 

Tomorrow, I’ll be Greek and I am betting for a result like the one of this video (LOL!), at least.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Chegando à Madeira...

Titula hoje o Público que, na Madeira, o “Instituto do Desporto concedeu mais de meio milhão em subsídios depois de ser extinto”.
É um exemplo de notícia tiro-no-pé, por incompetência e ignorância, que só serve os adversários, permitindo-lhes respostas desonestas mas formalmente corretas.

Jardim dirá "é mentira, não foi depois de o IDRAM ser extinto". É o chamado "raciocínio lateral". É coisa típica da esquizofrenia. Lembro-me de um bom exemplo. X, "ontem fizeste esta coisa execrável, isto e mais isto".  Y, "não é´verdade, estás a mentir". X, "como é que não é verdade, em que é que estou a mentir?". Y, "porque não foi ontem, foi anteontem". Nunca vos aconteceu isto? E nunca viram políticos a usar este truque desonesto (se não forem esquizofrénicos, caso em que é desculpável)?
Havia na Madeira um instituto público de apoio ao desporto (IDRAM), que financiava  a relação reles entre governo regional e clubes. Com o resgate da dívida madeirense, o governo jardinesco comprometeu-se a extinguir o IDRAM, o que fez. Simplesmente, segundo a notícia e para entendimento de gente honesta que não percebe os tais "raciocínios laterais", pagou aos clubes, já depois da extinção (de facto mas não "de jure", e esta é a questão!), uma pipa de massa.
O Governo regional propõe à Assembleia legislativa a extinção do IDRAM em 16 de Abril. A proposta é aprovada pela Assembleia em 30 de Maio. Entretanto, o governo jardinesco aprovou financiamentos de centenas de milhares de euros, com data de 7 de Maio.
Querem pôr isto em tribunal? Tudo legal, se olharmos para as datas. Tudo execrável, se olharmos para os factos. Mas como é que há gente a reclamar um braço forte da justiça, a corrigir esta perversão da democracia e da decência, se isto se confronta com tão desavergonhada desfaçatez legal?
Não precisamos de mais leis, de bom funcionamento da justiça, de procuradores ou bastonários justicialistas. Como em tantas coisas da nossa vida, fomos formatados para não discutir a lei, quando a lei é apenas a codificação da relação de poderes sociais, extremada em situação revolucionária. E é a que estamos a viver. Venha mas é o direito revolucionário.
Jardins, Isaltinos, Oliveira e Costa, muitos mais, servem para conversa de café, “safam-se sempre”. A verdadeira conversa devia ser que a justiça faz parte lógica desta ordem social em que vivemos, que primeiro devemos aprisionar essa gente e depois definir as leis que deem cobertura à revolução.
Isto faz-me lembrar um coisa que uma vez me disse o meu “patrão”, Azeredo Perdigão: “meu jovem amigo, faça na política aquilo que eu sempre fiz no direito. Resolvo a causa segundo o meu bom senso e os meus valores morais e só depois vou estudar os códigos para ver como fundamentar a minha decisão”. 
NOTA - Mais uma vez, na base desta nota, na sua lógica, na sua estrutura mental, está o “velho filófoso renano”. Lembrando Pessoa e com muito respeito por Jesus Cristo, o filósofo renano tinha biblioteca (ou ia para Russel Square) e sabia de finanças. Por isto era perigoso, era assim que o citavamos nos tempos da noite. Sinto que hoje tenho de voltar a fazê-lo, para que muitos leitores arrebanhados pela ortodoxia ideológica não mudem logo de página. Ao que chegámos!

Grécia e Portugal, tão diferentes!

Prolegómono, palavra rebarbativa. Prolegómono daqueles de moer no fundo da postura política é saber se e como se deve criticar os aliados, se e como elogiar os adversários quando é caso disso. Deixando este último e mais fácil lado da questão, vou ao outro e penso que sempre a esquerda se alimentou da polémica. A direita conserva-se no simplismo da defesa de coisas seguras e fáceis. A esquerda abre caminhos só adivinhados, ensaia e erra, polemiza. Isto é dar armas ao adversário? Para mim, decididamente não, é mostrar a muito mais gente do que os pequenos grupos ativistas que a esquerda é plural, rica e que oferece alternativas.
Dito isto…
Louçã colaborou na campanha da Syriza. No regresso, segundo o Público, proclama, com o entusiasmo natural de quem participou em tão importante acontecimento político, que “o país deve revoltar-se contra a austeridade e uma política de “terra queimada” que só conduz ao desastre e à falência da economia”. Muito bem, mas palavras, palavras, palavras…
“Portugal precisa de se revoltar para recuperar a sua economia, a sua dignidade e a sua vida”. Inegavelmente bonito, mas palavras, palavras, palavras…
“Só uma viragem pode salvar o euro de um fanatismo liberal”, afirmou. Muito bem, mas que viragem, no real? Palavras, palavras, palavras…
Francisco Louçã congratulava-se assim com os resultados obtidos pela Syriza, segunda força política na Grécia, e considerava que significam ‘um sinal fortíssimo para a Europa e para Portugal também’ ”.
Tendo eu dúvidas sobre a justeza de algumas posições da Syriza, não cometo a injustiça (que afinal eles merecem quando põem Louçã ao lado de Tsipras) de considerar que a clareza das propostas da Syriza tem alguma coisa a ver com o  contorcionismo taticista dos muitos louçãs de cá. 
A proposta da Syriza é transparente, como disse, talvez com o simplismo das coisas reduzidas ao muito simples. Queremos, gregos, permanecer no espaço do euro, mas não nos queremos sujeitar ao austeritarismo. Vamos rejeitar o pacto com a troika. Vamos confrontar a “Europa” com esta posição de coragem nossa, a ver se eles percebem que se nós puxarmos a corda ela pode rebentar-lhes na cara. E temos praticamente metade dos gregos connosco. No fundo, esperamos que os euro-ricos vão perceber que, antes de com isto falirmos e não podermos pagar ordenados e pensões, vão falir alguns dos seus queridos bancos, expostos à nossa dívida. A economia desses senhores fez-se como jogo de casino, agora jogamos nós.
Embora com dúvidas sobre se esta política é possível sem saída do euro - e compreende-se, em termos de técnica política, que a Syriza não o diga - perfilho esta posição e bem gostava de ver alguém em Portugal a defendê-la com clareza. Louçã diz que “estes resultados são um sinal fortíssimo para Portugal”. Muito bem, isto deve querer dizer que algum partido, em Portugal, vai pegar nessa bandeira.
Será o BE? Obviamente que não. Desafio alguém a demonstrar, mesmo com o maior benefício da dúvida, que as muito ambíguas referências louçã-bloquistas a renegociação, etc., tenham alguma coisa a ver com a posição da Syriza, que Louçã agora quer aproveitar internamente, “são o nosso partido irmão”. Será o PCP ou o PS? Claramente que também não. Precisamos com urgência é de um novo partido.

NOTA - Há uns tempos, um amigo bom conhecedor dos meios internacionais de variadas esquerdas, alertava-me para que alguns intervenientes muito ativos nas discussões netianas não só portuguesas - com destaque para economistas - são marcadamente trotsquistas. Confio na sua opinião, mas não percebo. É uma espécie de maçonaria de "esquerda", mais ou menos esotérica? E não percebo porque, se há muitos anos li alguma coisa sobre o conflito pós-leninista e sobre o seu fim trágico à mão de um tal Ramon Mercader, isto hoje parece-me romance de Salgari ou coisa de infantilidade política. 

(Editado)

As eleições gregas

1. Eleições livres?
Num certo sentido, sim. Não houve destruição de urnas, chapeladas, traulitadas nos eleitores. Mas houve uma intolerável pressão das instituições financeiras e políticas internacionais, da UE ao FMI, de outros governos - qual havia de ser? - da comunicação social. Desrespeito da soberania democrática de um povo, a espelhar bem o que se conhece, a total falta de democraticidade da atual ordem mundial, a começar pela União Europeia, ordem antidemocrática que muitos querem combater à maneira homeopática, dando mais veneno à doença, no caso clamando por mais federalismo.
Pior, a manipulação da vontade eleitoral foi desonesta, porque a tendência geral foi a de dizer que o que estava em causa era uma espécie de referendo sobre a permanência ou saída do euro. Nenhum partido advogava a saída do sistema do euro! Para meu gosto, até acho que podiam ao menos ter dito estarem preparados para essa hipótese, como faz o Parti de Gauche francês. A Syriza propunha a suspensão imediata (“segunda feira estamos em Bruxelas”) do compromisso grego com a troika, mas mantendo o euro.
Mas creio que isto é revelador. O sistema do euro (CE, BCE, corte Merkel, gente da escola Goldman e Sachs, seus primos no FMI mais a europeia Sra. Lagarde, primeiros ministros tontoibéricos que emprenham pelos ouvidos dos seus gaspares, etc.) sabe que quando alguém na grande mesa dos 27 der um murro na dita e disser “não pago”, todos vão tremer, porque tudo isto está a ser um enorme bluff. Mesmo a Alemanha, que tem um grande monte de fichas posto a jogo, tem só um par de duques. Se todos pagarem para ver, ela estoura. 

E quem julgar que a economia é moral, honesta, Egas Moniz de baraço ao pescoço, coisa de boa gestão dos dinheiros da família, é pobre vítima de manipulação que já vem do Salazar. A economia, como a política, é luta! Leiam este senhor aqui ao lado. Luta devia ser com regras de fair play e de golfe jogado entre cavalheiros, aperto de mão no fim e cheers no 19º buraco, mas de facto é "desporto" de canelada. 

Porque os meninos do fato preto ou o loiro bonitinho angélico presidente do Bundesbank são tudo menos meninos de coro ou missionários mórmons, mesmo que igualmente bem vestidinhos e a cheirar a Old Spice. São apenas a versão envernizada da canalha do bairro de lata, do salve-se quem puder. O problema é que a malta do bairro salva-se só com umas coisinhas de droga e esses senhores salvam-se com a miséria de milhões. Ah, mas o Gaspar é diferente, fala pausada e sisudamente.
E lá em escuras boticas de Trás-os-Montes, em lojas palreiras de barbeiros do Algarve, se dizia, com respeito, com esperança:—«Parece que há agora aí um rapaz de imenso talento que se formou, o Pacheco!» Pacheco estava maduro para a representação nacional. Veio ao seu seio— trazido por um Governo (não recordo qual) que conseguira, com dispêndios e manhas, apoderar-se do precioso talento de Pacheco. Logo na estrelada noite de Dezembro em que ele, em Lisboa, foi ao Martinho tomar chá e torradas, se sussurrou pelas mesas, com curiosidade:—«É o Pacheco, rapaz de imenso talento!» E desde que as Câmaras se constituíram, todos os olhares, os do governo e os da oposição, se começaram a voltar com insistência, quase com ansiedade, para Pacheco, que, na ponta duma bancada, conservava a sua atitude de pensador recluso, os braços cruzados sobre o colete de veludo, a fronte vergada para o lado como sob o peso das riquezas interiores, e os óculos a faiscar... [JVC - o nosso Pacheco não usa óculos mas tem umas papadas suboculares que lhe dão um ar distinto… colesterol é coisa fina, não se dignem médicos discutir possíveis causas de públicas virtudes e vícios privados]. Finalmente uma tarde, na discussão da resposta ao discurso da Coroa, Pacheco teve um movimento como para atalhar um padre zarolho que arengava sobre a «liberdade». O sacerdote imediatamente estacou com deferência; os taquígrafos apuravam vorazmente a orelha: e toda a câmara cessou o seu desafogado sussurro, para que, num silêncio condignamente majestoso, se pudesse pela vez primeira produzir o imenso talento de Pacheco. No entanto Pacheco não prodigalizou desde logo os seus tesouros. De pé, com o dedo espetado (jeito que foi sempre muito seu) [JVC - ou aquelas mãozinhas a desenhar arcos íris no céu da iluminação divina], Pacheco afirmou num tom que traia a segurança do pensar e do saber íntimo:—«que ao lado da liberdade devia sempre coexistir a autoridade!» Era pouco, decerto:—mas a câmara compreendeu bem que, sob aquele curto resumo, havia um mundo, todo um formidável mundo, de ideias sólidas.
Volto ao murro na mesa, depois deste devaneio bebido no meu patrício ilhéu, terceirense, com nome que nunca vi nas minhas ilhas, Fradique. Claro que os outros 26 vão fazer cara de maus, mas quero ver se não aguenta essas caras, olhos nos olhos, quem tiver tido a coragem dessa atitude. Não será Tsipras, por força desta derrota eleitoral, não será o insonso Hollande, não será nenhum socialista porque já não há mais nenhum, não será Louçã se um dia pudesse (amanhã falarei sobre isto), mas será alguém, porque não poderá deixar de ser. E contra quem tiver tido essa coragem, a tristeza de se olhar par pobres cães rafeiros.

2. Olhando para os resultados


Partido
Maio
Junho
Dif


Votos
%

Votos
%

Nova Democr.
1
1192051
18,9
1
1825609
29,7
53,1
Syriza
2
1061282
16,8
2
1655053
27,9
55,9
PASOK
3
833527
13,2
3
755832
12,3
-9,3
Gregos Indep.
4
670957
10,6
4
462456
7,5
-31,1
Neonazis
6
441018
7,0
5
425980
6,9
-3,4
Esq. Democr.
7
386263
6,1
6
385079
6,3
-0,3
P. Com.
5
536072
8,5
7
277179
4,5
-48,3
Abst.


34,9


37,5



  • A abstenção não variou de forma a dificultar a comparação dos resultados dos partidos, mais um menos um por cento.
  • Reforça-se a bipolarização. Os dois partidos mais simbólicos, pró e antitroika, ND e Syriza, somavam 35,7% em maio e passam para 57,6% em junho. É uma situação radicalmente diferente da portuguesa, em que gaspares e amigos se sentem confortados com a maioria pró.trika de 80%, uma vergonha de carneirismo quando olhamos para estes gregos, seja lá qual metade deles tenham razão. O que não são é unanimistas.
  • O PASOK continua a sua queda inexorável. Menos 31% de 2009 para maio de 2012, menos 9% num só mês, de maio para junho de 2012. Não há socialistas em Portugal a pensar nisto? E em que há uma semelhança flagrante entre os dois partidos socialistas: ambos são bengala da direita no apoio aos programas da troika.
  • Os partidos menos afirmativos na sua oposição “moderada” ao programa da troika, os Gregos independentes e a Esquerda democrática, partidos de gente moderada e sensata, de intelectuais bem pensantes, caem significativamente ou mantêm-se a um nível pouco expressivo.
  • A extrema direita nazi parece ter feito o seu pleno em maio e perde algum eleitorado, embora ainda sem nos aliviar da sua ameaça.
  • O Partido comunista (KKE) é fortemente penalizado, como acontece vulgarmente em situações de forte tensão (já o vivemos cá). Não consegui ler as suas posições, que só vi em grego, mas parece ser um partido rígido e sectário. Não ganhou nada com esta eleição e talvez tenha impedido a Syriza de ter obtido a maioria.
3. Ficou tudo na mesma?

Ainda hoje li num blogue respeitável, mas com uma mistura diáfana e de encanto discreto da burguesia, entre esquerda e algum elitismo direitista, que nada mudou com estas eleições. Que, afinal, pasme-se a francesice de uma velha cultura queiroziana, mais importante foi a obscura segunda volta das legislativas francesas. Acrescenta-se que nada de novo na frente de Berlim.
Claro que eu preferia a vitória da rejeição do programa da troika (redigo, independentemente de não me saber muito bem a firme declaração da Syriza de fidelidade ao euro). Mas que nada mudou? A corte europeia valsa e rejubila, mas como baile de fantasmas com teias de aranha, como no filme de Polansky. Sabem bem que um povo esteve à beira de pôr em risco toda a tranquilidade do sistema e que, se não foi ontem, será amanhã. E que nenhum governo grego, nestas condições terá condições para governar pacificamente como os discípulos do Goldman (que nome mais ironicamente acertado!) nos governam.
4. Futebol
E claro que vou torcer furiosamente pela vitória da Grécia sobre a Alemanha!

P. S. - Thomae and other Greek friends, sorry, no time to translate this to English, but i'm sure you guess what i'm saying. Zeus save Greece!